Livros Apócrifos ou Não Canônicos
1. A palavra
Apócrifo
,
do grego apokrypha,
escondido, nome usado pelos escritores eclesiásticos para determinar,
1) Assuntos secretos, ou misteriosos; 2) de origem ignorada, falsa ou
espúria; 3) documentos não canônicos.
2. Os livros
apócrifos do Antigo Testamento (A.T.):
Estes não faziam parte
do
Cânon hebraico, mas todos eram mais ou menos aceitos pelos judeus de
Alexandria que liam o grego, e pelos de outros lugares; e alguns são citados
no Talmude. Esses livros, a exceção de 2 Esdras, Eclesiástico, Judite,
Tobias, e 1 dos Macabeus, foram primeiramente escritos em grego, mas o seu
conteúdo varia em diferentes coleções.
Eis os livros apócrifos pela sua ordem usual:
I
(ou III) de Esdras:
é
simplesmente a forma grega de Ezra, e o livro narra o declínio e a
queda do reino de Judá desde o reinado de Josias até à destruição de
Jerusalém; o cativeiro de Babilônia, a volta dos exilado, e a parte que
Esdras tomou na reorganização da política judaica. Em certos respeitos,
amplia a narração bíblica, porém estas adições são de autoridade duvidosa. O
historiador Josefo é o continuador de Esdras. Ignora-se o tempo em que foi
escrito e quem foi o meu autor.
II (ou IV) de
Esdras:
Este livro tem estilo inteiramente diferente de 1º de Esdras. Não é
propriamente uma história, mas sim um tratado religioso, muito no estilo dos
profetas hebreus. O assunto central, compreendido nos caps. 3-14, tem como
objetivo registrar as sete revelações de Esdras em Babilônia, algumas das
quais tomaram a forma de visões: a mulher que chorava, 9.38, até 10.56; a
águia e o leão, 11.1 até 12.39; o homem que se ergueu do mar, 13.1-56. O
autor destes capítulos é desconhecido, mas evidentemente era judeu pelo
afeto que mostra a seu povo. (A palavra Jesus, que se encontra no cap. 7.28,
não está nas versões orientais.) A visão da águia, que é
expressamente baseada na profecia de Daniel (2º Esdras 12.11), parece
referir ao Império Romano, e a data de 88 A.D. até 117 A.D. é
geralmente aceita. Data posterior ao ano 200 contraria as citações do
v. 35 cap. 5 em grego por Clemente de Alexandria com o
Prefácio: “Assim diz o profeta Esdras.” Os primeiros dois e os
últimos dois capítulos de 2º Esdras, 1 e 2, 15 e 16 são aumentos; não se
encontram nas versões orientais, nem na maior parte dos manuscritos latinos.
Pertencem a uma data posterior à tradução dos Setenta que já estava em
circulação, porquanto os profetas menores já aparecem na ordem em que foram
postos na versão grega, 2º Esdras, 1.39, 40. Os dois primeiros capítulos
contêm abundantes reminiscências do Novo Testamento e justificam a rejeição
de Israel e sua substituição pelos Gentios, 2º Esdras, 1.24,25,35-40;
2.10,11,34), e, portanto, foram escritos por um cristão, e, sem dúvida, por
um judeu cristão.
Tobias:
Este livro contém a narração da vida de certo Tobias de Neftali, homem
piedoso, que tinha um filho de igual nome, O pai havia perdido a vista. O
filho, tendo de ir a Rages na Média, para cobrar uma dívida, foi
levado por um anjo a Ecbatana, onde fez um casamento romântico com uma viúva
que, tendo-se casado sete vezes, ainda se conservava virgem. Os sete
maridos haviam sido mortos por Asmodeu, o mau espírito nos dias de seu
casamento. Tobias, porém, foi animado pelo anjo a tornar-se o oitavo marido
da virgem-viúva, escapando à morte, com a queima de fígado de peixe, cuja
fumaça afugentou o mau espírito. Voltando, curou a cegueira de seu pai
esfregando-lhe os escurecidos olhos com o fel do peixe que já se tinha
mostrado tão prodigioso. O livro de Tobias é manifestamente um conto moral e
não uma história real. A data mais provável de sua publicação é 350 ou 250 a
200 A.C.
Judite:
E a
narrativa, com pretensões a história,
do modo por que uma viúva judia, de temperamento masculino, se recomendou às
boas graças de Holofernes, comandante-chefe do exército assírio, que sitiava
Betúlia. Aproveitando-se de sua intimidade na tenda de Holofernes, tomou da
espada e cortou-lhe a cabeça enquanto ele dormia. A narrativa está cheia de
incorreções, de anacronismos e de absurdos geográficos. É mesmo para se
duvidar que exista alguma cousa de verdade; talvez que o seu autor se tenha
inspirado nas histórias de Jael e de Sisera, Jz 4.17-22. A primeira
referência a este livro, encontra-se em uma epístola de Clemente de Roma, no
fim do primeiro século. Porém o livro de Judite data de 175 a 100 A. C.,
isto é, 400 ou 600 anos depois dos fatos que pretende narrar. Dizer
que naquele tempo Nabucodonosor reinava em Nínive em vez de Babilônia não
parecia ser grande erro, se não fosse cometido por um contemporâneo do
grande rei.
Ester:
Acréscimo de capítulos
que não
se acham nem no hebreu, nem no caldaíco. O livro canônico de Ester termina
com o décimo capítulo. A produção apócrifa acrescenta dez versículos a este
capitulo e mais seis capítulos, 11-16. Na tradução dos Setenta, esta matéria
suplementar é distribuída em sete porções pelo texto e não interrompe a
história. Amplifica partes da narrativa da Escritura, sem fornecer novo fato
de valor, e em alguns lugares contradiz a história como se contém no texto
hebreu. A opinião geral é que o livro foi obra de um judeu egípcio que a
escreveu no tempo de Ptolomeu. Filometer, 181-145 A.C.
Sabedoria de
Salomão:
Este livro é um tratado de Ética recomendando a sabedoria e a retidão, e
condenando a Iniqüidade e a idolatria. As passagens salientam o pecado e a
loucura da adoração das imagens, lembram as passagens que sobre o mesmo
assunto se encontram nos Salmos e em Isaías (compare: Sabedoria 13.11-19,
com Salmos 95; 135.15-18 e Isaias 40.19-25; 44.9-20). É digno de nota que o
autor deste livro, referindo-se a incidentes históricos para ilustrar a sua
doutrina, limita-se aos fatos recordados no Pentateuco. Ele escreve em nome
de Salomão; diz que foi escolhido por Deus para rei do seu povo, e foi por
ele dirigido a construir um templo e um altar, sendo o templo feito
conforme o modelo do tabernáculo. Era homem genial e piedoso,
caracterizando-se pela sua crença na imortalidade. Viveu entre 150 e 50 ou
120 e 80, A.C. Nunca foi formalmente citado, nem mesmo a ele se referem os
escritores do Novo Testamento, porém, tanto a linguagem, como as correntes
de pensamento do seu livro , encontram paralelos no Novo Testamento (Sab.
5.18-20; Ef 6.14-17; Sab. 7.26, com Hb 1.2-6 e Sab. 14.13-31 com Rm
1.19-32).
Eclesiástico:
também denominado Sabedoria de Jesus, filho de Siraque. É obra
comparativamente grande, contendo 51 capítulos. No capítulo primeiro, 1-21,
louva-se grandemente o sumo sacerdote Simão, filho de Onias, provavelmente o
mesmo Simão que viveu entre 370 - 300, A.C. O livro deveria ter sido escrito
entre 290 ou 280 A.C., em língua hebraica. O seu autor, Jesus, filho de
Siraque de Jerusalém, Eclus
1.27, era avô, ou, tomando a palavra em sentido mais lato, antecessor remoto
do tradutor. A tradução foi feita no Egito no ano 38, quando Evergeto era
rei. Há dois reis com este nome, Ptolonmeu III, entre 247 a 222 A.C., e
Ptolomeu Fiscom, 169 a 165 e 146 a 117 A.C. O grande assunto da obra e a
sabedoria. É valioso tratado de Ética. Há lugares que fazem lembrar os
livros de Provérbios, Eclesiastes e porções do livro de Jó, das escrituras
canônicas, e do livro apócrifo, Sabedoria de Salomão. Nas citações deste
livro, usa-se a abreviatura Eclus, para não confundir com Ec abreviatura de
Eclesiastes.
Baruque:
Baruque era amigo do Jeremias. Os primeiros cinco capítulos do seu livro
pertencem à sua autoria, enquanto que o sexto é intitulado “Epístola de
Jeremias.” Depois da introdução, descrevendo a origem da obra, Baruque
1.1,14, abre-se o livro com três divisões, a saber:
1) Confissão dos pecado. de Israel e orações, pedindo perdão a Deus, Baruque 1.15, até 3.8. Esta parte revela ter sido escrita em hebraico, como bem o indica a introdução, cap. 1:14. Foi escrita 300 anos A.C.
2) Exortação a Israel para voltar à fonte da Sabedoria, 3.9 até 4.4.
3) Animação e promessa de livramento, 4.5 até 5.9. Estas duas seções parece que foram escritas em grego, pela sua semelhança com a linguagem dos Setenta. Há dúvidas, quanto à semelhança entre o cap. 5 e o Salmo de Salomão, 9. Esta semelhança dá a entender que o cap. 5 foi baseado no salmo, e portanto, escrito depois do ano 70, A.D., ou então, que ambos os escritos são moldados pela versão dos Setenta. A epístola de Jeremias exorta ou judeus no exílio a evitarem a idolatria de Babilônia. Foi escrita 100 anos A.C.
Adição à
História de Daniel:
O cântico dos três mancebos (jovens): Esta produção foi destinada a ser Intercalada no livro canônico de Daniel, entre caps. 3.23,24. É desconhecido o seu autor e ignorada a data de sua composição. Compare os versículo, 35-68 com o Salmo 148.
A história de Suzana: É também um acréscimo ao livro de Daniel, em que o seu autor mostra como o profeta, habilmente descobriu uma falsa acusação contra Suzana, mulher piedosa e casta. Ignora-se a data em que foi escrita e o nome de seu autor.
Bel e o dragão: Outra história introduzida no livro canônico de Daniel. O profeta mostra o modo por que os sacerdotes de Bel e suas famílias comiam as viandas oferecidas ao ídolo; e mata o dragão. Por este motivo, o profeta é lançado pela segunda vez na caverna dos leões. Ignora-se a data em que foi escrita e o nome do autor.
Oração de
Manassés,
rei
de Judá quando esteve cativo em Babilônia. Compare, 2º Cr 33.12,13. Autor
desconhecido. Data provável, 100 anos A. C.
Primeiro Livro
dos Macabeus:
E
um tratado histórico de grande valor, em que se relatam 05
acontecimentos políticos e os atos de heroísmo da família levítica dos
Macabeus durante a guerra da lndependência judaica, dois séculos A.C.
O autor é desconhecido,
mas evidentemente é judeu da Palestina. Há duas opiniões quanto à data em
que foi escrito; uma dá 120 a 106 A.C., outra, com melhores fundamentos,
entre 105 e 64 A.C. Foi traduzido do hebraico para o grego.
Segundo Livro
dos Macabeus:
É
inquestionavelmente um epítome da grande obra de Jasom de Cirene; trata
principalmente da história Judaica desde o reinado de Seleuco IV, até à
morte de Nicanor, 175 e 161 A.C. É obra menos importante que o primeiro
livro. O assunto é tratado com bastante fantasia em prejuízo de seu crédito,
todavia, contém grande soma de verdade. O livro foi escrito depois do ano
125 A.C. e antes a tomada de Jerusalém, no ano 70 A.D.
Terceiro
Livro dos Macabeus:
Refere-se a acontecimentos anteriores à guerra da independência. O ponto
central do livro e pretensão de Ptolomeu Filopater IV, que em 217 A.C.
tentou penetrar nos Santo dos Santos, e a subseqüente perseguição contra os
judeus de Alexandria. Foi escrito pouco antes, ou pouco depois da era
cristã, data de 39, ou 40 A.D.
Quarto
Livro dos Macabeus:
É um tratado
de moral advogando o império da vontade sobre as paixões e ilustrando a
doutrina com exemplos tirados da história dos macabeus. Foi escrito depois
do 2º Macabeus e antes da destruição de Jerusalém.
É, talvez, do
1º século d.C. Ainda que os livros apócrifos estejam compreendidos na versão
dos Setenta, nenhuma citação certa se faz deles no Novo Testamento. É
verdade que os Pais muitas vezes os citaram isoladamente, como se fossem
Escritura Sagrada, mas, na argumentação, eles distinguiam os apócrifos dos
livros canônicos. S. Jerônimo, em particular, no fim do 4º século, fez entre
estes livros uma claríssima distinção. Para defender-se de ter limitado a
sua tradução latina aos livros do Cânon hebraico, ele disse: “Qualquer livro
além destes deve ser contado entre os apócrifos. Sto. Agostinho, porém
(354-430 à.C.), que não sabia hebraico, juntava os apócrifos com os
canônicos como para os diferençar dos livros heréticos. Infelizmente,
prevaleceram as idéias deste escritor, e ficaram os livros apócrifos na
edição oficial (a Vulgata) da Igreja de Roma. O Concilio de Trento, 1546,
aceitou “todos os livros... com igual sentimento e reverência”, e
anatematizou os que não os consideravam de igual modo. A Igreja Anglicana,
pelo tempo da Reforma, nos seus trinta e nove artigos (1563 e 1571), seguiu
precisamente a maneira de ver de S. Jerônimo, não julgando os apócrifos como
livros das Santas Escrituras, mas aconselhando a sua leitura “para exemplo
de vida e instrução de costumes”.
3. Livros
Pseudo-epígrafos.
Nenhum artigo sobre os livros apócrifos pode omitir estes inteiramente,
porque de ano para ano está sendo mais compreendida a sua importância.
Chamam-se Pseudo-epígrafos, porque se apresentam como escritos pelos santos
do Antigo Testamento. Eles são amplamente apocalípticos; e representam
esperanças e expectativas que não produziram boa influência no primitivo
Cristianismo. Entre eles podem mencionar-se:
Livro de
Enoque
(etiópico), que é citado em Judas 14. Atribuem-se várias datas, pelos
últimos dois séculos antes da era cristã.
Os Segredos
de Enoque
(eslavo), livro escrito por um judeu helenista, ortodoxo, na primeira metade
do primeiro século d.C.
O Livro dos
Jubileus
(dos israelitas), ou o Pequeno Gênesis, tratando de particularidades
do Gênesis duma forma imaginária e legendária, escrito por um fariseu entre
os anos de 135 e 105 a.C.
Os
Testamentos dos Doze Patriarcas:
é
este livro um alto modelo de ensino moral. Pensa-se que o original hebraico
foi composto nos anos 109 a 107 a.C., e a tradução grega, em que a obra
chegou até nós, foi feita antes de 50 d.C.
Os Oráculos
Sibilinos,
Livros III-V, descrições poéticas das condições passadas e futuras dos
judeus; a parte mais antiga é colocada cerca do ano 140 a.C., sendo a porção
mais moderna do ano 80 da nossa era, pouco mais ou menos.
Os Salmos de
Salomão,
entre 70 e 40 a.C.
As Odes de
Salomão,
cerca do ano 100 da nossa era, são, provavelmente, escritos cristãos.
O Apocalipse
Siríaco de Baruque
(2º
Baruque), 60 a 100 a.C.
O Apocalipse
grego de Baruque
(3º
Baruque), do 2º século, a.C.
A Assunção de
Moisés,
7 a 30 d.C.
A Ascensão de
Isaias,
do
primeiro ou do segundo século d.C.
4. Os Livros
Apócrifos do Novo Testamento (N.T.):
Sob
este nome são algumas vezes reunidos vários escritos cristãos de primitiva
data, que pretendem dar novas informações acerca de Jesus Cristo e Seus
Apóstolos, ou novas instruções sobre a natureza do Cristianismo em nome dos
primeiros cristãos. Entre os Evangelhos Apócrifos podem mencionar-se:
O Evangelho
segundo os Hebreus
(há
fragmentos do segundo século);
O Evangelho segundo S. Tiaqo, tratando do nascimento de Maria e de Jesus (segundo século);
Os Atos de
Pilatos.(Segundo
século).
Os Atos de Paulo e Tecla (segundo século).
Os Atos de
Pedro
(terceiro século).
Epístola de
Barnabé
(fim do primeiro século).
Apocalipses, o de Pedro (segundo século).
Ainda que
casualmente algum livro não canônico se ache apenso a manuscritos do N.T.,
esse fato é, contudo, tão raro que podemos dizer que, na realidade, nunca se
tratou seriamente de incluir qualquer deles no Cânon.
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